As recentes catastrofes naturais no estado do Rio de Janeiro sÃo notícias e motivos de debates e picos de audiência em tele-jornais ruins, mas meditemos neste fragmento, levemente adaptado de um texto de Leonardo Boff, retirado por mim do Jornal de Umbanda Sagrada, de Janeiro de 2011:
"Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que distribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público por não ter realizado obras preventivas, pois estas não são visíveis e conseqüentemente não geram votos nas próximas eleições! ( Já que o povo tem memória curta. )
Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside toda a causa principal destas tragédias avassaladoras.
A causa principal deriva do modo como costumamos a tratar a natureza. Ela é generosa para conosco e nós o que damos a ela em agradecimento ou troca? Como nos relacionamos com ela?
Nós a consideramos como um objeto qualquer e classificamos como objetos sem vida, tudo o que dela provém! E assim justificados, por conta desta errônea visão ou melhor cegueira, a modificamos e a usurpamos a nosso bel prazer, agimos sem nenhum sentido de responsabilidade. Ao contrário tratamo-la com violência e desrespeito, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício e vida confortável e ainda a utilizamos como lixeira.
Pior ainda nós não nos preocupamos em conhecer a sua história, a história antiga milenar que a formou e o sentido misterioso que a fez brotar de determinada maneira nas montanhas e de outra maneira nos vales...
não buscamos conhecer nada sobre ela, somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos lugares em que moramos ao menos. Não nos preocupamos em conhecer a fauna e a flora, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas, artistas, poetas, governantes e construtores que ali viveram, que ali a interpretaram para as gerações futuras.
Somos em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos, pintores e artistas em geral, sábios e muitas vezes loucos, evocaram em suas vidas e obras, transduziram para nós!... E nem assim nos apercebemos!
O universo e a natureza possuem história, e esta história está sendo contada e cantada para nós o tempo todo, pelas estrelas, pela Terra, pelos rios, pelo firmamento, pelas florestas, pelos animais. Nossa tarefa é interpretar as imagens que eles nos mandam... as mensagens que nos projetam... emitem...
Os povos originários sabiam interpretar estas vozes... estas mensagens que a natureza nos envia. Sabiam interpretar o significado das nuvens, o sentido dos ventos e quando vinha ou não trombas d'água.
Mas este conhecimento não entrou nos currículos escolares nem virou conhecimento geral.
Antes aprendemos, técnicas para dominar e domar a natureza, subjugar o solo, modificar as paisagens... alterar os objetos de lugar... segundo uma descrição de mundo cega, errônea, assassina e consumista competitiva.
Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, por onde fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão as grandes águas das chuvas torrenciais de verão. Nesta parte não se pode construir nem morar! Mas nós não fomos ensinados a observar a natureza e sua linguagem não sabemos traduzir... a própria vegetação nos diz este alerta. Mas nós estamos esquecidos da sabedoria dos antigos!
Assim também, não devemos construir sobre a fina capa de solo que cobre as imensas rochas lisas das montanhas.
Sabemos que o aquecimento global está ai, e com ele aumenta a freqüência dos acontecimentos extremos na natureza... afinal, a Terra sente calor e pressão atmosférica excessiva e as montanhas e os rios sentem o evaporar das águas como um esvanecer de suas energias vitais. Mas isto também não conseguimos escutar
E inúmeros outros sinais, como o efeito da superpopulação de determinadas espécies de animais apenas para o abate e alimento, não conseguimos entender quando é para nos calarmos nem quando é para falarmos, quando devemos seguir adiante em uma ação ou paralisarmos.. e tudo isto a natureza nos diz... mas estamos com os ouvidos surdos...
Estamos pagando um alto preço pelo nosso descaso e dizimação da Mata Atlântica que antes equilibrava o regime das chuvas."
Devemos com certeza mudar o nosso rumo e esta mudança começa desligando-se da realidade massacradora do consumo e da obrigação de ter dois filhos. Liberdade sexual! Liberdade para viver uma vida instintiva e feliz... é o que iniciará a transformação.
Potencializada pelas Artes e Artístas!
Direcionada por muita poesia!
Agradeço a Leonardo Boff por me deixar ( sem saber ) palpitar no seu texto.
3 comentários:
Querido, parabéns por esse belo e verdadeiro texto.Fiz meu último poema (8/02) inspirada nele... Espero que tenha gostado de saber.
Beijo e ótimo dia para ti.
Sim, querido. É o poema que vc fez o comentário.
Fiquei muito feliz por vc ter gostado.Obrigada.
Beijo
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